Há 35 anos à frente do terreiro Ilê Axé Opó Ofonjá, ela ajudou a disseminar a cultura do candomblé
“Prudente, forte, flexível e intransigente, capaz e firme, sentada no trono que já lhe era devido por destino e por escolha.” Foi assim que o escritor Jorge Amado descreveu Mãe Stella de Oxóssi no livro ‘Bahia de Todos os Santos’ (1945).
Nascida em 1925 e enfermeira por formação, Maria Stella de Azevedo Santos, a Mãe Stella, foi escolhida ialorixá – mãe do orixá – do centenário terreiro Ilê Axé Opó Afonjá, localizado em São Gonçalo do Retiro, em 1976. Seguindo os passos das antecessoras, Mãe Stella desempenha uma liderança importante dentro do candomblé, e teve destaque com a oposição firme ao sincretismo religioso. “Ela combate a subordinação do candomblé a uma outra religião. Essa questão que ela colocou é muito séria porque envolve o combate ao preconceito”, explica o antropólogo Ordep Serra. A ialorixá dedica-se também às questões sociais e mantém no terreiro uma escola para crianças, que leva o nome da fundadora do Opó Afonjá, Eugênia Ana dos Santos – Mãe Aninha. Ela também é responsável pela criação, em 1980, do primeiro museu de um terreiro de candomblé, o Ohum Lailai, e é admirada pela inteligência, que foi eternizada em cinco livros publicados.
Assumindo o terreiro
Mãe Stella é a quinta ialorixá do terreiro Ilê Axê Opó Afonjá, criado em 1910 por Mãe Aninha. Com a morte da antecessora, Mãe Ondina, ela teve que assumir a missão, e há 35 anos comanda o terreiro que é considerado patrimônio nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “Ela é uma das lideranças mais respeitadas do candomblé e uma ialorixá de uma das casas mais tradicionais da Bahia. Ela seguiu a tradição da fundadora Mãe Aninha, e à frente do Afonjá tem feito um trabalho magnífico. Destaca-se não só como sacerdotisa, mas como intelectual e líder popular”, afirma o antropólogo Ordep Serra.
Mas Mãe Stella é simplória ao falar de si: “Sou responsável pelo Afonjá e tenho obrigação de trabalhar em prol da moral, dos bons costumes e das boas ações”, declarou em entrevista à Metrópole TV, em março de 2010.
Oposição ao sincretismo
A liderança religiosa de Mãe Stella marcou para sempre a história do candomblé. Com oposição ferrenha ao sincretismo religioso, em 1983 a ialorixá apresentou na II Conferência Mundial da Tradição dos Orixás e Cultura, em Salvador, um manifesto contra a associação dos orixás aos símbolos da Igreja Católica.
Nessa luta, Mãe Stella teve o apoio de Mãe Menininha, Olga do Alaketu e Doné Ruinhó. “A importância de mãe Stella para o candomblé é decisiva quando ela diz que os nossos orixás bastam. Ela diz que não precisamos nos esconder atrás dos santos católicos. Mas o que também ela deixa claro é o respeito à religião católica e às outras religiões”, explica a historiadora e filha de santo de Mãe Stella, Vanda Machado.
‘Não temos tempo de prestar atenção aos opressores’
Apesar de deixar claro o respeito às outras religiões, Mãe Stella ainda enfrenta muito preconceito à frente do Opó Afonjá. Em novembro de 2009, invadiram o quarto de Oxalá, dentro do terreiro, e destruíram as instalações. Já em janeiro de 2010, o vandalismo ocorreu no quarto de Oxum, em um sábado, dia em que ela é celebrada.
Em entrevista à Metrópole TV,em março de 2010, Mãe Stella disse que não se preocupava com o preconceito que a religião ainda sofre. “A discriminação existiu e ainda existe, e aí a resistência do candomblé e o povo do axé supera essas coisas todas. Nós não temos muito tempo para prestar atenção nos opressores e perseguidores. Nós estamos trabalhando por uma causa que é a religião”, argumentou.
E Mãe Stella faz história mais uma vez...
O dia 02 de março de 2011 ficará marcado para sempre na História de Mãe Stella, do Candomblé e do Jornal A TARDE, nas páginas de Opinião, a cada 15 dias, sempre às quartas-feiras, será publicado um artigo assinado pela ialorixá do Ilê Axé OpÔ Afonjá, Mãe Stella de Oxóssi.
É a primeira vez, desde a fundação de A TARDE em 1912, que uma ocupante do mais alto posto da hierarquia do candomblé se torna articulista de forma regular no periódico.
Publicações e reconhecimento
Além dos cinco livros que publicou, Mãe Stella foi homenageada diversas vezes pelo trabalho religioso. Em 2001, ela recebeu o prêmio jornalístico Estadão na condição de fomentadora de cultura; quando completou 70 anos de iniciação no candomblé, em 2009, foi homenageada com o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Bahia; e em 2010, a Câmara Municipal e Assembleia Legislativa, através do deputado estadual Bira Corôa (PT), adepto da religião, referenciaram o centenário do terreiro. “Ela representa um símbolo da resistência da mulher baiana e negra. É a representação de uma história viva de 100 anos de organização e afirmação de um templo religioso”, diz o parlamentar. A ialorixá recebeu ainda a comenda Maria Quitéria da Prefeitura de Salvador, e do governo da Bahia a Ordem do Cavaleiro.
Mãe Stella de Oxóssi, exemplo de mulher, de mãe, de asé, de brasileira...
A seua benção, Dani!!!
ResponderExcluirNão é a primeira vez que aqui venho e leio todo o texto.A propenção é de começar e ou parar no primeiro parágrafo, quando a leitura e assunto são chatos. Mas ainda não me ocorreu essa sensação em nenhum dos textos que aqui li.
Sobre este, em especial, devo dizer que é uma delicia saber que além de mulher, negra e religiosa, mãe Stella esta galgando patamares livres a quem possa ocupar - isso perante a lei- porém, proibidos aos mesmos por opção de seleção forçada pela nossa sociedade "encapuzada" nos preconceitos, né? Fiquei muito feliz...Parabéns, coléga! Axé pra você!
Aexandra - COMUNIDADE CANDOMBLÉS DE SÃO PAULO ( http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=112513285 )
Querida Alexandra, sua benção! fiquei muito feliz com seu comentário e é muito bom saber que o blog está agradando, eu pesquiso muito para dar a esse espaço uma boa qualidade e já faço parte de sua comunidade que adorei tbm, bjks de asé!
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