A chegada do inverno é a oportunidade para mais uma bela reflexão de Mãe Stella, esta foi publicada em sua coluna quinzenal no Jornal A Tarde no último dia 22 de junho, acredito que irão gostar...
E o tempo continua “andando”. Seria melhor dizer que na época atual o tempo continua “correndo”. O outono passou e o inverno já chegou para os habitantes do hemisfério sul, é claro. Relembro este fato porque parece que as pessoas se esquecem deste pequeno detalhe ao importar a cultura proveniente de outro hemisfério.
Káàbò àkókò otútù! = Seja bem vindo inverno! Traga para nós as chuvas fertilizantes que caem do Òrun; que elas purifiquem nossos pensamentos, como puro são os pensamentos de Oxàlá, a divindade que se veste de branco, fazendo uso do simbolismo desta cor para nos lembrar a necessidade da pureza física e espiritual; que elas nos cheguem na medida certa, com equilíbrio, para que as residências de nossos irmãos não sejam afetadas; que elas nos façam lembrar que nossas crianças precisam de agasalhos, sejam eles tecidos de lã ou de afagos, de proteção que gera respeito, para que elas nos obedeçam quando dissermos (claro que “cortando a onda” delas): “Má wonú òjo, kí asó ò ré má ba tutu, ki òtútù ma ba mu é o” = “Não ande na chuva para evitar que sua roupa se molhe, para que não apanhe uma gripe”.
Não só as crianças, mas todos nós precisamos de cuidados específicos para cada período do ano. No inverno, doenças infecciosas produzidas por vírus e bactérias produzem sintomas como febre, cefaléia, mal-estar, dores no corpo… Os problemas respiratórios aumentam. Todos têm uma receita caseira para tratar os referidos sintomas: escalda-pés, chás diversos (com detalhes curiosos na preparação).
“Os porcos-espinhos estavam para serem extintos da terra, em um período de muito frio. Recorreram, então, a uma tática de sobrevivência. Ficaram todos muito juntinhos, a fim de aquecerem seus corpos com o calor do outro. Acontece que os espinhos de um feriam o outro. Resolveram afastar-se. A situação piorou, fazendo com que eles retornassem à antiga opção. Com o passar do tempo, aprenderam a conviver um com o espinho do outro. Afinal, era uma questão de sobrevivência.”
No caso de nós humanos, a necessidade de nos relacionarmos com os nossos semelhantes e, consequentemente, com os defeitos deles, seus “espinhos”, não é apenas uma questão de manter o corpo físico vivo, é também uma questão de sobrevivência emocional. Ferimo-nos mutuamente, mas Oxàlá – Olowù nos deu de presente o algodão,para que possamos limpar as mágoas, as feridas de nossas almas.
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